Luiz Fumagalli: Quatro décadas de histórias no Bar da Bocha

Luiz Fumagalli: Quatro décadas de histórias no Bar da Bocha

Última atualização em 12/08/2025, 13h35min por A Trombeta

Às vezes, a vida muda de rumo em um instante — ou, no caso de Luiz Fumagalli Filho, em uma esquina. Foi na esquina da Rua José Agustoni com a Avenida Olavo Bilac, em Fernando Prestes, que ele decidiu fincar raízes, abrir as portas de um pequeno bar e escrever, dia após dia, uma história que já dura quatro décadas.

Hoje, aos 84 anos, Luiz ainda se levanta antes das 6h, como se o relógio interno fosse afinado pelo tilintar dos copos, pelo cheiro do café fresco e pelo passear da vassoura na limpeza do estabelecimento. A primeira tarefa do dia é preparar os salgados — coxinhas douradas, espetinhos famosos e pastéis que já viraram marca registrada. Ele aprendeu a fazer de tudo um pouco: era lavrador, barbeiro e, nas horas vagas, artesão de couro. Mas foi atrás do balcão, no Bar da Bocha, que ele construiu o que mais lhe orgulha: um ponto de encontro, de amizade e de boas conversas.

O início não foi fácil. Em julho de 1985, Luiz deixou a lavoura e a barbearia, juntou as economias e comprou o ponto. Tinha alguma experiência na cozinha, fruto de festas e eventos que ajudava a organizar, mas o bar exigiu aprendizado diário. Devagar, foi ajeitando o espaço, arrumando paredes, instalando uma estufa no canto do balcão e transformando o ambiente em um lugar onde todos se sentissem à vontade. Logo comprou o prédio. A casa ao lado também.

O campo de bochas, que deu nome ao bar, já foi palco de risadas e disputas animadas. Antes da pandemia, as tardes eram tomadas por amigos competindo, enquanto outros se reuniam nas mesas para degustar cervejas, refrigerantes e, claro, uma boa cachaça. Mesmo que o movimento do jogo tenha diminuído, o espírito do lugar permanece o mesmo: um convite à convivência e ao prazer das pequenas coisas. Os campeonatos municipais de bocha promovidos pela prefeitura acontecem no bem cuidado campo do Bar da Bocha. Fazendo jus ao nome.

Luiz calcula ter fabricado e vendido mais um milhão de salgadinhos desde aquele julho de 1985. Cada um deles carrega um pouco da sua dedicação e da receita que nunca muda. Hoje toca o bar com a ajuda do filho Marcelo e da nora Cidinha.

Luiz Fumagalli ao centro com o filho Marcelo e a nora Cidinha

Além do balcão, há outras paixões que resistem ao tempo. Luiz é um dos últimos guasqueiros da região, artesão que trançava rédeas, laços e arreatas quando ainda era jovem e não tinha dinheiro para comprar arreios prontos para seu cavalo. Aprendeu observando mestres como Pim Ravazzi e Zé Motta, e até hoje mantém o ofício vivo, mesmo que só como hobby.

Nos momentos de descanso, Luiz se refugia em um pequeno sítio ou no rancho às margens do Rio Paraná, onde passa férias com a família e amigos. Mas, cedo ou tarde, volta para o bar — porque é ali que pulsa sua verdadeira vida.

“Tudo o que tenho consegui atrás deste balcão”, repete, olhando para o espaço que guarda risos, confidências, histórias e o cheiro de salgadinho fritando. Para ele, o Bar da Bocha não é apenas um negócio. É um álbum de memórias vivas, que se renova a cada dia, com cada cliente que entra e sai. E assim, entre um gole e outro, entre uma conversa e outra, Luiz Fumagalli continua escrevendo sua história — uma história que já tem 40 anos de sabor, amizade e gratidão.

Publicidade

Compartilhar

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *