Última atualização em 19/02/2023, 16h36min por A Trombeta
Parece até engraçado o título desta matéria, mas é uma curiosidade que poucas pessoas sabem. Não apenas pela curiosidade em saber o sexo desses inofensivos anfíbios, mas o conteúdo traz informações sobre a interação dos humanos com os bichos e a utilidade deles para a natureza
Sapo-cururu, sapo comum ou sapo-boi são nomes atribuídos popularmente a algumas espécies de sapo da Família Bufonidae, do Gênero Rhinella, incluindo a espécie Rhinella icterica. Esta espécie é muito popular, inclusive fazendo parte de manifestações culturais brasileiras, como contos, cantigas infantis, dentre outras.
Rhinella icterica possui ampla distribuição geográfica, sendo encontrada nas Regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste do Brasil e também no norte da Argentina e leste do Paraguai. Por ser tolerante a diversos tipos de habitat, ocupa diferentes biomas, como as áreas florestadas da Mata Atlântica até áreas do Cerrado. Sua presença é ainda frequente em áreas antropizadas (modificadas pela ação humana), pois locais com iluminação artificial representam um atrativo para insetos e, consequentemente, acabam por atrair os sapos por fornecer abundante alimentação.
São considerados sapos de grande tamanho corporal, com corpo largo. Os machos são menores e mais delgados, atingindo tamanho médio de 13 cm e fêmeas com maior tamanho, como ocorre na maioria dos anfíbios, com cerca de 16 cm. Observa-se o chamado dimorfismo cromático sexual na espécie, pois os machos adultos são unicolores, apresentando coloração esverdeada-amarelada, o que rendeu a espécie o nome “icterica”, uma associação com a coloração amarelada da pele. Já as fêmeas são bicolores, apresentam o dorso bege com manchas escuras (marrom a preto) e com a presença de uma faixa dorsal de coloração bege. A forma jovem possui cor intermediária entre os sexos, com dorso oliváceo e manchado. A região ventral de ambos apresenta coloração branco-marmoreado. Possuem cristas cefálicas bem definidas, pele bastante rugosa e áspera, devido à presença de inúmeras glândulas cutâneas e volumosas glândulas paratóides, com formato elíptico, localizadas atrás dos olhos.
Como os demais anuros, sua forma de vida larvar são os girinos, que nesta espécie são de pequeno tamanho (9 a 10 mm), apresentando cauda e coloração preta. São livre-natantes e formam aglomerações.
De acordo com a International Union for Conservation of Nature (IUCN), a espécie está classificada no status de ameaça pouco preocupante (LC), devido principalmente à ampla distribuição geográfica, população numerosa e diversidade de habitats que ocupa, incluindo áreas perturbadas. No entanto, existem relatos de declínio populacional em alguns locais, devido à drenagem de lagoas e poluição de corpos hídricos.
Como a maioria dos anfíbios, os cururus possuem ciclo de vida bifásico, com uma fase larval aquática de água doce e, após a metamorfose, na fase adulta, são animais terrestres que vivem próximos a zonas úmidas.
Cada uma dessas fases de vida possui características próprias. Um exemplo é em relação à dieta que possuem. Matéria orgânica em suspensão em corpos hídricos são a principal fonte de alimentação dos girinos, enquanto os adultos são predadores, generalistas e oportunistas, capturando presas invertebradas, como insetos e lesmas e até mesmo pequenos ratos. A tática de forrageamento (busca pelo alimento) se dá pelo comportamento do tipo “senta e espera”, onde os animais permanecem imóveis até capturarem suas presas.
Como mecanismo de defesa contra o ataque de predadores, produzem e liberam toxinas, chamadas de bufotoxinas, através de suas glândulas de veneno, sendo as principais as paratóides. No entanto, essas toxinas são liberadas somente quando as glândulas são pressionadas, como por exemplo quando são atacados por predadores. Não há a presença de órgão inoculador de veneno nestes animais, portanto, a afirmação de que os sapos-cururus esguicham veneno quando se sentem ameaçados corresponde na verdade a um mito.
Assim como outras espécies de anuros, os sapos-cururus têm sua atividade reprodutiva relacionada a fatores climáticos, como as chuvas e temperaturas. Ocupam coleções hídricas, nas quais o fluxo de água seja mais lento, como ambientes lênticos, de forma a evitar que os girinos sejam levados pela correnteza. Nestes ambientes também há presença de maior quantidade de oxigênio dissolvido.
O canto do macho é um mecanismo utilizado para atrair a fêmea. Por ser exclusivo da espécie, tem a função também de evitar a formação de casais entre Rhinella icterica e outras espécies, o que tornaria a reprodução inviável. Um saco vocal, situado na região gular (uma bolsa de pele inflável presente na região correspondente à garganta) funciona como uma câmara de ressonância na produção do som, possibilitando que cada espécie tenha um canto próprio. No caso dos cururus, o canto é uma seqüência de notas curtas e repetidas, percebida aos nossos ouvidos como um “cururu”, o que lhe rendeu seu nome popular, que se deriva do Tupi “Kuru’ru”. A vocalização ocorre principalmente à noite, no entanto, dependendo das condições climáticas, pode também ser ouvida durante o dia.
Após determinar o local ideal para a reprodução e com o encontro entre macho e fêmea há a ocorrência do amplexo. O amplexo é o nome dado à forma de acasalamento dos anuros, na qual ocorre uma falsa cópula, em que o macho se coloca sobre a região dorsal da fêmea, abraçando-a com suas patas. O macho fertiliza os óvulos liberados pela fêmea, com um fluído contendo espermatozóides e neste momento ocorre a postura.
A desova ocorre em corpos d’água, preferencialmente de agosto a janeiro. São formados cordões gelatinosos, contendo milhares de ovos escuros, que são depositados em locais de água rasa. Os ovos permanecem nesse cordão de gel, com alguns metros de comprimento, que fornece proteção aos mesmos, ficando enovelados sobre a vegetação aquática.
Após a eclosão dos ovos, os girinos, deixam o cordão gelatinoso e passam a ter hábitos diurnos, vivendo em aglomerações. A metamorfose nos sapos é um processo que inclui inúmeras alterações morfológicas, tais como modificações no tamanho da boca, no intestino longo que modifica-se em um intestino curto, típico da alimentação carnívora no adulto, a respiração branquial torna-se pulmonar, a cauda regride e surgem as patas.
Anfíbios, como os sapos-cururus, representam animais de grande importância ecológica, seja pelo fato de apresentarem grande diversidade, quanto pelo fato de possuírem um ciclo de vida que une a vivência na água e na terra. Devido a serem predadores, desempenham importante papel ecológico no controle da população de invertebrados.
A ampla distribuição de sua população, grande e estável, resistência à diversidade de habitats, presença de pele permeável e exposta, fornecem um bom modelo e bioindicador em estudos de monitoramento ambiental. São ainda importantes em estudos na área da farmacologia, devido à produção de biotoxinas por estes animais.
Fonte texto e imagens: Animal Bussines Brasil
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