Última atualização em 12/09/2022, 4h58min por A Trombeta
Médico afirma que o spray em estudo é resultado de tecnologia brasileira e a produção em massa vai depender da indústria farmacêutica. Confira a entrevista no podcast
Com as mutações do coronavírus, as vacinas em spray surgem para trazer uma “resposta imunológica muito boa”. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, Jorge Kalil, do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e responsável pela pesquisa desse tipo de imunizante, diz que o diferencial está na proteção específica, impedindo a infecção viral no nariz e a transmissão do vírus para outros indivíduos.
O funcionamento da vacina em spray age nos anticorpos chamados imunoglobulinas A (IGA), que são diferentes das imunoglobulinas G (IGG), geradas pelos imunizantes intramusculares recorrentes. Primeiro porque elas protegem as mucosas e “têm um tipo de resposta específica”, que estabiliza as moléculas no primeiro mecanismo de defesa das mucosas, como explica Kalil. Segundo porque ela induz uma resposta imune local, o que, para ele, “seria a melhor forma” de evitar a infecção.
A partir desse mecanismo, Jorge Kalil esclarece que, ao ocasionar uma resposta imune local, o spray impede a infecção viral no nariz, e complementa: “Se não tem infecção viral no nariz, ele [o vírus] não será mais transmitido para outras pessoas”. No quadro atual, mesmo que mais indivíduos estejam imunizados com as três doses da vacina, ainda podem ocorrer infecções nasais, por conta da queda de imunidade do local. Isso ocasiona a transmissão do vírus sem que a pessoa esteja doente, o que poderia ser evitado a partir de uma imunização concentrada no nariz.
Oscilações na imunidade
No caso das vacinas intramusculares, grupos mais expostos ao vírus podem vir a desenvolver a doença novamente. Jorge Kalil salienta que, da maneira como esses imunizantes são concebidos, o nível de anticorpo “cai ao cabo de cinco e seis meses”, mas frisa que existem variações individuais e que, mesmo com esse decaimento, a resposta celular é efetiva:
Para a proteção mais efetiva, o imunizante em spray, ao atuar nessas áreas mais específicas, é uma potencial saída. Kalil explica, ao ressaltar estudos que vêm sendo feitos: “Nós vemos que alguns animais que nós imunizamos há mais de um ano continuam tendo uma resposta muito boa. Então, aparentemente, ela [resposta celular] pode ser bastante longa. Só posso confirmar depois que eu testar gente”.
O imunizante em spray
Para a concepção da vacina, foi criado um novo alvo para a resposta imune a partir de um pedaço da proteína spike. O genoma do vírus foi estudado e, a partir dele, foram retirados pedaços que induzem boa resposta celular, para a criação de um anticorpo específico que neutralize a ação da carga viral.
Depois, foram selecionadas as partes que induzem melhor a resposta celular. Para isso, foram observados dois tipos de respostas: as “auxiliadoras”, que ajudam na composição da resposta, e a “citotóxica”, em que células matam células infectadas, impedindo a proliferação do vírus no corpo. Os passos posteriores no processo de elaboração do spray se basearam no alcance das células das mucosas, para se obter uma resposta efetiva, a partir da testagem de mais de 50 tipos de formulações do imunizante.
Após esses passos, Jorge Kalil destaca ser necessário “trabalhar para que seja industrialmente factível”, já que o processo envolve uma série de questões, como o bom rendimento do imunizante e a sua produção em boas quantidades. Para isso, ele defende melhorias na cadeia tecnológica, científica e de produção industrial.
Fonte: Jornal da USP
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