A inevitável volta às aulas: riscos e benefícios

A inevitável volta às aulas: riscos e benefícios

Última atualização em 07/08/2021, 19h04min por A Trombeta

Apesar de ainda não ser obrigatória, desde o dia 02/08, as escolas estaduais, municipais e particulares do estado de São Paulo estão autorizadas a retornar às aulas presenciais, podendo atender até 100% dos estudantes. As aulas foram suspensas pelo governo paulista no início da pandemia, em março do ano passado. No início deste ano, as aulas foram retomadas, mas havia limite de 35% na capacidade de ocupação. No município de Fernando Prestes, devido a um decreto local, as aulas presenciais terão início no próximo dia 09/08/.

A volta presencial ainda não será obrigatória. A expectativa é de que a obrigatoriedade passe a valer a partir de setembro. Segundo a Secretaria Estadual da Educação, caso o estudante ou sua família queiram permanecer com as aulas remotas ou online, o responsável legal deverá comunicar, por escrito, à unidade escolar, comprometendo-se a manter a frequência do aluno de forma digital.

As escolas vão poder atender 100% dos alunos desde que seja obedecido o limite de um metro de distanciamento entre eles. Cada escola ficará responsável por estabelecer esse limite de acordo com a sua capacidade física. Se a escola não puder receber a totalidade dos alunos de forma presencial, ela poderá adotar um sistema de revezamento.

Rede estadual

Só na rede estadual de ensino há 3,5 milhões de estudantes, que serão obrigados a usar máscara no interior da escola. Segundo a Secretaria Estadual da Educação, ao chegarem às escolas todas as pessoas terão a temperatura aferida e, caso esteja acima de 37,5 graus, será orientado a retorno para casa. Os protocolos também incluem higienização frequente das mãos com água e sabão ou álcool em gel 70% e dos ambientes e ambientes arejados com portas e janelas abertas. Os especialistas dizem que os aspectos mais importantes a serem adotados para evitar a transmissão do novo coronavírus (covid-19) são a ventilação e o uso de máscaras.

Em Fernando Prestes a Escola Estadual “Francisco Sales de Almeida Leite” retomará as atividades presenciais na próxima segunda-feira, dia 09/08, quando os 185 alunos poderão estar em salas de aulas.  Porque poderão? Porque segundo a diretora da escola Lucilena Pineli Bueno a maioria das salas comportam  70% dos alunos e diante da obrigatoriedade de manter ao menos um/ metro de distância entre as carteiras não é possível abrigar 100% dos estudantes ao mesmo tempo, sendo necessário o rodízio de turmas nos dias da semana.

Já os professores e servidores deverão voltar às aulas presenciais, sem revezamento. Mas no caso daqueles com comorbidades, só voltarão às aulas presenciais 14 dias após a aplicação da segunda dose das vacinas Oxford/AstraZeneca/Fiocruz, Pfizer/BioNTech ou CoronaVac/Butantan/Sinovac ou dose única, no caso da vacina da Janssen.

A Secretaria Estadual da Educaçao informou que os servidores e colaboradores que, por escolha pessoal, optarem por não se vacinar dentro do calendário local também deverão retornar.

Rede municipal

Na rede municipal de ensino, os alunos também retornarão em 09/08 e o limite de atendimento vai respeitar a capacidade física de cada unidade, mantendo o distanciamento de um metro entre os alunos. Segundo Marisa Rocha Remondini, Secretaria Municipal da Educação de Fernando Prestes o retorno as aulas já vem sendo discutido com toda a comunidade escolar juntamente com representantes das pastas da Saúde, Assistência  Social desde abril no Plano de Retomada e seguirá o preceituado nas normas do Plano São Paulo. O município atende hoje 900 alunos que vão desde creche até o Ensino Básico, no entanto as 157 crianças da Creche Escola Prof. Paulo Pastori não retornarão devido a necessidade do contato muito próximo.

Por enquanto, a volta às aulas presenciais na rede municipal de Fernando Prestes  é facultativa, a critério dos pais ou responsáveis.

A orientação da prefeitura de Fernando Prestes é para que as pessoas com qualquer sintoma da covid-19 procure auxílio médico e não compareça à unidade escolar.

Professores e familiares

A Trombeta ouviu alguns professores e familiares sobre esse retorno das aulas presenciais.

Valquiria Monteiro tem dois filhos, um estudante do Ensino Médio e outro que cursa o 9º ano na Escola Municipal “Profª Sophia Atayde Pedrassoli” e apoia a volta das aulas presenciais. “Tem muitas crianças nas ruas e na escola estão bem mais protegidas e por isso concorda com o retorno das atividades presenciais nas escolas”, disse.

Ellen Cristine Teles Rodrigues, também tem dois filhos, um no 3º e outro no 7º ano e é contra voltar às aulas presenciais. “Estamos na pandemia apesar da vacinação temos agora nova variante mais contagiosa e acho que deveriam esperar mais. Se a criança repetir de ano e pode fazer novamente e se você perder seu filho para esse vírus. Não vou arriscar a vida dos meus (filhos) e não voltarão a escola antes de estarem vacinados”, desabafou Ellen.

Leandro Dias Miguel, professor de Educação Física efetivo da Rede Estadual afirma que o retorno é inevitável, mas receia que os protocolos de segurança sejam inaplicáveis por todos, principalmente aos alunos mais novos, quando há uma aproximação maior dos professores e funcionários. “Por outro lado temos vários pontos negativos com a ausência da escola e um que preocupa e muito é a evasão escolar, quando alunos das séries finais começaram a trabalhar para ajudar a família e e esse retorno será mais difícil. Essa volta será o grande teste da Educação brasileira” concluiu Leandro.

Tania Manjerão, professora nas redes estadual e municipal é contra o retorno presencial em sala de aula, porque a maioria dos professores ainda não tomou a segunda dose da vacina. “Apesar dos números da pandemia terem diminuído, estamos frente a variante Delta e entendo que deveríamos concluir este ano de forma remota e em 2022 voltaríamos com mais segurança as salas de aula”, disse Tania.

Ângela Silvestre também professora na Rede Municipal de Fernando Prestes é contra a volta as aulas presenciais. “Falta tão pouco tempo para a aplicação da segunda dose em todos os professores e, portanto, poderíamos esperar mais algumas semanas”, disse. Ângela disse discordar do termo de isenção de responsabilidade da Prefeitura Municipal que tiveram que assinar. “tivemos que fazer uma declaração de próprio punho e registrar em cartório” desabafou a professora.

Sociedade de Pediatria

Por meio de nota, a Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) disse que os pais não precisam ficar temerosos em mandar seus filhos para as escolas neste momento da pandemia. Segundo a entidade, pesquisas têm demonstrado que as crianças não são grandes transmissoras do vírus e não costumam evoluir de forma grave.

“A pandemia de covid-19 tem afligido todo o planeta e tem sido especialmente grave em nosso país, com mais de meio milhão de brasileiros perdendo suas vidas precocemente. Não obstante a isto, o número de crianças afetadas de forma grave e que evoluíram de maneira desfavorável foi relativamente pequeno”, disse Fausto Flor de Carvalho, presidente do Departamento de Saúde Escolar da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

“As pesquisas realizadas no Brasil e no exterior têm demonstrado que crianças não são grandes espalhadoras do vírus, que costumam ter quadros leves a moderados e quase metade delas são assintomáticas”, explicou.

Para Carvalho, a ausência das aulas presenciais tem provocado outros danos às crianças, como distúrbios alimentares e de relacionamento interpessoal (distanciamento dos amigos e contato apenas com adultos), além da dificuldade de concentração. “Assim, cremos que é momento adequado para retomada de aulas presenciais. Os pais devem trabalhar com os filhos sobre as medidas de proteção e devem estar em contato com a escola. Qualquer sintoma respiratório a criança deve ser afastada e procurar o serviço médico para diagnóstico. Uma boa comunicação entre pais, escolas e profissionais da saúde vai colaborar para uma volta mais segura e com mínimos riscos a todos”, disse.

Já o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) é contra a volta às aulas neste momento. Para o sindicato, a volta as aulas presenciais só deveria ocorrer após os professores terem tomado a segunda dose da vacina contra a covid-19. “Mais do que ninguém sabemos que o lugar dos professores e estudantes é nas escolas, mas não é este o momento”, diz o sindicato.

“O processo de vacinação dos profissionais da educação e da população está em curso. Portanto, não existe o menor sentido no retorno às aulas presenciais em agosto. Há professores que só receberão a segunda dose da vacina em setembro. Apenas após a vacinação de todos com a segunda dose e a garantia de todos os protocolos sanitários para garantir a manutenção do controle da pandemia é que poderemos retornar às escolas”, disse o sindicato em comunicado publicado em seu site.

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