Ausência de rituais dificulta luto pela perda na Covid-19

Ausência de rituais dificulta luto pela perda na Covid-19

Última atualização em 05/02/2023, 20h14min por A Trombeta

Aperda de um ente querido é sempre sofrida e dolorosa. Mas quando se trata de uma morte pela covid-19, a experiência do luto se complica. Esse tema foi exposto pela psicóloga Mariele Rodrigues Correa, da Faculdade de Ciências e Letras (FCL) da Unesp, câmpus de Assis, e pelo psicanalista André Gellis, da Faculdade de Ciências (FC), também da Unesp, em Bauru, em debate on-line promovido pelo Centro de Documentação e Memória (CEDEM), neste dia 5 de maio.

Mariele integra uma equipe de professores e alunos da FCL que elaborou a cartilha E os que ficam?, que informa sobre como lidar com um luto delicado como é o da covid-19. “Os rituais compõem atividades esperadas de nossa sociedade, independentemente de como a pessoa parte. É necessário que o fim seja concretamente posto, com práticas tais como velório, sepultamento, presença de familiares e conhecidos, a fim de que a visualização e a confirmação desse corpo falecido sejam permitidas. Isso contribui para uma maior aceitação da perda e para o processo de enlutamento”.

Ainda segundo a cartilha, “Com a pandemia, nada disso está sendo possível. As reações conhecidas do processo de luto permaneceram – negação, raiva, barganha, depressão e aceitação – mas com novas nuances, dolorosas e semeadas em um campo consumado pela não-despedida, pela impossibilidade do último adeus, do último abraço, de um final justo e honrado. Esta realidade propicia experiências de sofrimento para as pessoas atingidas por um tempo ainda mais indeterminado, fazendo com que o lidar com essas dores se torne, na grande maioria das vezes, quase que insuportável”.

O material alerta para a sobreposição do luto em decorrências das perdas coletivas: de liberdade de circular livremente, impossibilidade de reunião, mudanças e adaptações e/ou perda de trabalho, a insegurança financeira, entre outras.

No debate, Gellis lembrou outras consequências traumáticas que impactam o cotidiano dos indivíduos na pandemia. Por exemplo, as perdas afetivas. Ele explica que falta de amparo e ausência de suporte são alguns elementos que favorecem o trauma. Na opiniao do docente, “a experiência do luto é um remédio para o trauma, desde que no luto possa ocorrer uma descarga emocional em que a experiência vivida é expressa em palavras ou em gestos, ou é retificada em sua dimensão”.

Ações da Universidade na pandemia – Os docentes Mariele e Gellis estão envolvidos em projetos que visam dar suporte emocional nesse período de pandemia. 

Teleacolhimento Psicológico à comunidade unespiana: em tempos de COVID-19 é um projeto de ensino e pesquisa com prestação de serviços para o enfrentamento da epidemia e de suas consequências, tais como o isolamento social e as mudanças impostas na vida pessoal e no trabalho, estudos, entre outras situações.

Segundo Gellis, em seu primeiro ano, o projeto atendeu cerca de 750 inscritos por meio de 42 Comunidades Virtuais, cada qual realizando uma média de 25 encontros semanais. O projeto se constitui em um serviço psicológico de escuta e mediações sob a forma de uma proposta de trabalho que opera diretamente no enfrentamento e na superação dos desafios que se impuseram desde o período pré-pandemia até o de pandemia, com vistas à elaboração dos impactos das mudanças advindas ao cotidiano de todos, das vivências e experiências pessoais. O Teleacolhimento consiste em encontros realizados a partir de uma temática comum, voltados para a criação de um grupo com uma atividade fundamentada no trabalho cooperativo: um encontro em que os presentes tentem reconstruir significados e rearticular idéias, e não apenas trocar informações entre si. 

Os grupos são formados por categorias de alunos, calouros, docentes, funcionários. “O distanciamento social impôs perda de referências,” fala Gellis. “Os calouros não conhecem seus locais de estudos e não podem fazer a integração com a comunidade.” Para o docente, a Universidade criou uma resposta para o impacto da pandemia.

A docente do câmpus de Assis supervisiona e oferece orientação para membros do projeto que acolhe enlutados por perdas pela covid-19. O trabalho, que atende pessoas de todo o país, consiste em reuniões semanais em ambiente virtual, com quatro grupos de quinze a vinte pessoas com até 1h30 de duração. A cartilha E os que ficam? é ofertada também para essas pessoas. “Nossa produção de conhecimento deve estar voltada para a população,” destaca Mariele.

Acesse a Cartilha E os que Ficam?

Para se inscrever no projeto que acolhe enlutados ecesse: https://forms.gle/KRPteCY5c6o1k29bA

O debate CEDEM Consequencias psicossociais da pandemia do novo coronavírus pode ser assistido em
https://www.facebook.com/CedemUnespOfical/videos/811027829842232

Fonte: Cedem/Unesp

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