Crise hídrica: ano de 2021 pode ser até mais seco que 2020

Crise hídrica: ano de 2021 pode ser até mais seco que 2020

Última atualização em 28/07/2021, 8h32min por A Trombeta

Abordagem da seca em Fernando Prestes e região com gráficos e histórias de agricultores e até de pescadores

Por: José Saul Martins

“Eu tenho a impressão que 2020 foi o mais seco da história e este ano está caminhando para ser mais feio ainda” diz em tom de suspeita Carlos Justo, pequeno agricultor em Fernando Prestes. E a premonição do lavrador procede e sua suspeita também. Em 2020 choveu apenas 874 milímetros em Fernando Prestes, segundo medição da Fazenda São José (Caleiro) que afere a precipitação pluviométrica desde 1977 com dados diários mostrando dessa forma o mais seco nos últimos 20 anos (veja gráfico). Mais ainda, o ano de 2020 foi o mais seco desde o início da aferição.

Quanto à premonição de Carlos de que “este ano (2021) será mais feio ainda” quanto à estiagem também procede. Ao menos até agora. Os dados da Fazenda São José, relativos ao primeiro semestre de 2020 chegaram a uma precipitação de 519 milímetros contra 369 até 30 de junho último (veja gráfico).

Essas informações sobre as adversidades do clima em 2020 são reflexos de todo o Brasil e do mundo. Consta no site do Climatempo um retrospecto do ano passado. “Os extremos climáticos ajudaram 2020 a ser um ano bastante especial. Segundo cálculos da Organização Meteorológica Mundial, muito provavelmente 2020 ficará entre os três anos mais quentes já observados desde o início dos registros globais, em 1850”. (https://www.climatempo.com.br/noticia/2020/12/31/retrospectiva-climatica-de-2020-7164).

Vida no campo

A falta de chuvas afeta diretamente a agricultura e a vida de quem vive no campo. O agricultor Raul Ottoni disse que está sem água no sítio onde mora desde meados de 2020. “Meu poço (cisterna) secou e tenho de pegar água de um vizinho para uso doméstico e também para matar a sede das poucas criações que restaram” lamenta.

Calos Justo também enfrenta o mesmo problema, apesar de ter um poço semi artesiano. Ele está formando uma plantação de limão em seu sítio e tem de regar pelo menos duas vezes por semana para que as mudas não morram. “Aqui neste pequeno sítio dou conta de fazer isso com a ajuda de minha mãe, mas se fosse maior não teria jeito de aguar cova por cova os limoeiros” disse Carlos. A rega também precisa ser feita com a mandioca em sua agricultura familiar.

Mas não são apenas os pequenos agricultores que estão tendo problemas com a escassez de água. Flávio Agostinho, agricultor e produtor de citrus na região de Jales, tem em sua fazenda culturas em formação e produzindo de laranja, limão e ponkan e necessita fazer irrigação para que as plantas produzam e sobrevivam. “Temos seis poços artesianos e a cada semana diminui a captação de água para nossa irrigação e é preciso reparar as bombas constantemente” fala Flávio.

Abastecimento urbano

Em matéria publicada no Jornal da USP, a  falta de chuva e a diminuição do nível dos reservatórios são sinais de uma crise hídrica que irá afetar os reservatórios brasileiros e principalmente a região Sudeste. Com a falta de recursos hídricos, os impactos sentidos pela população não iram ser limitados somente no aumento da tarifação da energia elétrica.

O professor da USP, Paulo Saldiva salienta que a crescente concentração urbana demanda uma quantidade de água que não acompanha o ritmo pelo qual o meio ambiente consegue prover esse recurso. Outro ponto destacado pelo professor são os problemas em torno do tratamento de águas sanitárias contaminadas pelas redes urbanas. De acordo com ele, a escassez faz com que as impurezas se concentrem no pouco volume de água disponível, o que aumenta suas chances de eutrofização e a proliferação de matéria orgânica. 

As colocações do professor da USP, vem de encontro com a afirmação dos gerentes da Sabesp, Luciano Carlos Montedor e  Luciano Rizatti, que falaram em reportagem (http://atrombeta.com.br/e-preciso-economizar-agua-diz-sabesp/) recente para A Trombeta, sobre a carência de água potável para o abastecimento humano. Na matéria eles comentam sobre investimentos que a Sabesp realizou no município para ter suficiência de água para todos em qualquer tempo e deram dicas de como economizar. Garantiram que mesmo tendo um consumo diário de 1.250.000 litros não haverá falta de água em Fernando Prestes e Agulha mesmo em eventual crise hídrica. Enfatizam que apesar de Fernando Prestes ter seu abastecimento provido por poços profundos é preciso economizar água.

Histórias de pescadores

Aqueles “causos” de pescadores, que pegavam peixes enormes no Rio da Onça é coisa do passado. José Nuncio, conta que já faz mais de 15 anos que foi pescar no Rio da Onça. “Meu finado pai era vivo ainda e tivemos que bater quase que dez quilômetros de rio para conseguir achar um boa poça para pescaria e sem contar que não pegamos nada” lembra o pescador. Hoje o lavrador em suas horas de folga fica “passando o tempo” no lago municipal.

O palco de pescaria de Nuncio, o Lago Municipal “Adalberto Moacir Ravazzi” em Fernando Prestes desde setembro não está vazando mais. Hoje (18/07) o nível da água em relação cabeceira de seu vertedouro está 25 centímetros mais baixo. Antes das chuvas de dezembro do ano passado e janeiro deste ano chegou a 40 centímetros mais baixo. “Aquela peixada grande que a gente pegava nos rios da região não existe mais. Era um maior que o outro e a gente fisgava corimba, piapara, piava e até dourado. Hoje acabou a água e os peixes” lamenta José Nuncio.

O fluxo de água dos córregos da região é cada vez menor. Isso é visível. O Rio da Onça, nasce no município de Monte Alto (Anhumas) e  recebe água de dezenas de córregos afluentes da região da bacia hidrográfica Turvo/Grande e mesmo em sua cabeceira sempre foi caudaloso, hoje se restringe a um filete d’água semelhante a um córrego.

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Um pensamento sobre “Crise hídrica: ano de 2021 pode ser até mais seco que 2020

  1. Meus parabéns pela reportagem tão importante, somente deveria os proprietários de poços artesiano que deixa a noite toda ligado p molhar os pés de limão sendo q o equívoco guarani maior do mundo q atinge nossa região já abaixo mas de 100 metros

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