São Paulo celebra Revolução Constitucionalista de 1932; Fernando Prestes teve um combatente

São Paulo celebra Revolução Constitucionalista de 1932; Fernando Prestes teve um combatente

Última atualização em 17/07/2023, 18h36min por A Trombeta

Estima-se que mais de 900 pessoas morreram, mas historiadores acreditam que o número de mortes passou de 2 mil

A Revolução Constitucionalista de 1932 foi um movimento armado ocorrido no Brasil, especificamente no estado de São Paulo, entre os meses de julho e outubro de 1932. Esse movimento teve como objetivo principal derrubar o governo provisório de Getúlio Vargas e exigir a promulgação de uma nova Constituição para o país. Foi uma resposta à Revolução de 1930, que havia deposto o então presidente Washington Luís e colocado Getúlio Vargas no poder. Os paulistas sentiram-se prejudicados com a ascensão de Vargas, pois o novo governo ignorou a Constituição vigente e dissolveu o Congresso Nacional, centralizando o poder nas mãos do presidente.

A insatisfação dos paulistas com a situação política levou a uma mobilização militar e civil em São Paulo. O movimento teve o apoio de diversos setores da sociedade, incluindo estudantes, profissionais liberais, intelectuais e membros da elite cafeicultora. Eles acreditavam que a única maneira de restabelecer a ordem constitucional e garantir a autonomia do estado de São Paulo era por meio de uma revolução armada.

As forças constitucionalistas lutaram contra o Exército brasileiro, que era controlado pelo governo federal. Embora São Paulo tenha conseguido organizar uma resistência significativa, com mobilização de tropas e criação de um governo provisório, a superioridade militar do governo federal prevaleceu. As tropas constitucionalistas não conseguiram avançar além das fronteiras paulistas e, eventualmente, foram derrotadas. Foi importante porque marcou uma das maiores guerras civis da história do Brasil e serviu como um marco na luta pela redemocratização do país. Embora tenha sido uma derrota militar para São Paulo, o movimento alcançou parte de seus objetivos, pois a pressão popular contribuiu para a promulgação da Constituição de 1934, que estabeleceu uma nova ordem constitucional no Brasil. Além disso, a Revolução Constitucionalista de 1932 também fortaleceu o sentimento de identidade paulista e deu origem à data comemorativa do Dia da Revolução Constitucionalista, celebrado anualmente em 9 de julho no estado de São Paulo.

Em relação ao número de mortos no conflito, estima-se que cerca de 934 pessoas tenham perdido suas vidas durante a Revolução Constitucionalista de 1932. Esse número inclui tanto os combatentes quanto os civis que foram afetados pelos combates e pela repressão do governo federal. A maioria das vítimas foi registrada no estado de São Paulo, onde a maior parte do conflito ocorreu.

Os confrontos da Revolução Constitucionalista de 1932 ocorreram principalmente no estado de São Paulo, embora tenha havido alguns episódios em outras regiões do país. As principais áreas de conflito foram:

Capital de São Paulo: A cidade de São Paulo foi um dos principais pontos de confronto durante a revolução. Houve combates em vários locais da capital, como a Praça da República, o Parque D. Pedro II e a região central da cidade.

Vale do Paraíba: A região do Vale do Paraíba, conhecida por sua produção de café, foi palco de intensos combates. Cidades como Taubaté, Guaratinguetá e Lorena foram cenários de batalhas entre as tropas constitucionalistas e o Exército federal.

Fronteira com o Mato Grosso: Na região oeste do estado de São Paulo, ocorreram confrontos nas cidades de Presidente Epitácio e Presidente Venceslau, próximas à fronteira com o então estado do Mato Grosso.

Região do ABC Paulista: A região do ABC Paulista, composta pelas cidades de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul, também foi palco de confrontos. A população local apoiou ativamente a revolução, e ocorreram batalhas nas áreas urbanas e rurais.

Além desses locais, também houve episódios de confronto em outras partes do estado e em algumas regiões de Minas Gerais e do Paraná. No entanto, a maior parte dos combates ocorreu dentro do estado de São Paulo, onde o movimento constitucionalista teve sua base e concentração de tropas.

Quem foi o combatente de Fernando Prestes

Apesar deste movimento que resultou na luta armada, ter durado quase três meses (09 de julho a 02 outubro de 1932), acabou engajando toda a população paulista. Voluntários para os combates surgiram em todas as regiões do Estado. Um desses combatentes foi Francisco da Cunha Villela Sobrinho – “Seu Chico”, lavrador, casado e pai de duas filhas formou fileiras com os constitucionalistas.

A reportagem A Trombeta, falou com José Villela Sobrinho (Nego Villela) filho de Francisco e Wilson Villela (neto), atual vereador e presidente da Câmara de Fernando Prestes sobre esse episódio. José conta que, juntamente com seu pai, também foi Antônio Ravazzi, mas este acabou não indo para o front e voltou para casa. Foi de trem e a primeira parada foi em Araraquara onde recebeu uniforme, um fuzil e um breve treinamento. Em seguida foi para Pirassununga compor um grupo de combatentes.

José não sabe ao certo onde seu pai combateu, mas escutava ele falar que os combates aconteciam na zona rural e o trabalho constante dos soldados era de cavar trincheiras e formar barricadas com sacos de areia protegendo e defendendo pontos estratégicos. Uma das histórias que mais marcou ouvindo seu pai contar foi quando foram atingidos por uma bomba lançada pela aviação das tropas federais.

Os paulistas daquele grupo estavam exaustos e famintos. Em determinado dia o comandante disse que estava chegando um caminhão com suprimentos, inclusive comida. Quando o veículo estava estacionando,  surgiu no céu um avião inimigo e veio na direção deles com metralhadoras disparando. Se abrigaram nas trincheiras e barricadas, mas muitos soldados constitucionalistas não tiveram a mesma sorte e agilidade quando foi lançada uma bomba que destroçou o caminhão e dezenas de homens. Francisco teve sorte, mas ao saírem do abrigo o que viram foi uma carnificina.

Naquele dia o grupo em que Francisco estava foi reduzido a poucos homens que ficaram a deriva, sem comunicação, sem comida, sem suprimentos e sem comando. Ficaram escondidos num capão de mato, desagrupados e assustados. No entanto estava em sua companhia um outro homem da cidade de Pirangi. Ao anoitecer, pois só caminhavam durante a noite, saíram a esmo em busca de ajuda. Não recebia e nem enviava mais notícias a família, que morava no Bairro Tanquinho (Distrito de Aparecida de Monte Alto).  Receberam abrigo em uma casa, onde morava um casal com duas crianças pequenas. A mulher deu-lhes de comer e cuidou dos ferimentos. Como ainda estavam fardados não podiam ser vistos. Pelas tropas federais seriam mortos ou tratados como desertores pelo comando constitucionalista. Deixaram a residência do casal e se embrenharam pelas matas e fazendas se alimentando daquilo que encontravam. Mais alguns dias depois terminou o conflito e São Paulo tinha perdido a “guerra”. Conseguiram com a ajuda de um morador de uma fazenda comprar roupas novas, pois ainda estavam com o uniforme de combate, para viajar de volta para Fernando Prestes.

A esposa de Francisco, Sebastiana Damasceno Villela, já tinha dado o marido como morto, pois fazia muitas semanas que não recebia notícias. Nesse período faleceu uma das filhas do casal que Francisco não pode dar adeus. Mas deu certo e desembarcou na Estação Ferroviárias de Fernando Prestes e seguiu a pé até o Tanquinho, apenas com uma matula e algumas cicatrizes. Foi recebido com festa pela família e vizinhos. Seu Chico como era conhecido continuou a vida de lavrador e algum tempo depois comprou um sitio no município de Fernando Prestes, que está em posse de seus descendentes até hoje. Faleceu de morte natural aos 05 de junho de 1987, aos 81 anos e teve mais sete filhos com dona Sebastiana.

Seu Chico (de óculos sentado), dona Sebastiana, filhas, genros e neta em 1981

Foto capa: José Villela Sobrinho e a esposa Vera Massarenti Villela
Texto de apoio: Wikipedia e ChatGPT

Publicidade

Compartilhar

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *