Última atualização em 05/02/2023, 19h55min por A Trombeta
Por Márcia de Freitas*
É tudo pra ontem. A vida está pra ontem. A esperança está pra ontem. Mas as ações estão pra hoje. É isto que faz o documentário “AmarElo – É tudo pra ontem”, do rapper Emicida, que brilhantemente resgata a cultura negra com a música e a arte e mostra o devido valor destas pessoas na história cruel deste país chamado Brasil. Documentário importantíssimo que tira as visões míopes sempre impregnadas na sociedade que só enxerga o que quer, que só compartilha o que quer, só faz o que quer. Este documentário deveria ser incluído nos planos de aulas de história em todas as escolas públicas e particulares.
Brasil maravilhoso que deve o seu desenvolvimento a crueldade da escravatura e só, numa história muito recente, começa com uma parcela mínima das pessoas, a dar voz àqueles que sempre estiveram à “margem de”, nunca no centro. E que fizeram este País. Quem nasceu no Brasil não pode dizer que é BRANCO. É misturado, miscigenado, cruel e mesquinho porque nunca olhou para a sociedade como um todo. Sempre despedaçada e esfacelada vendo apenas o umbigo e seu próprio quintal. (E não é o quintal do poeta Manoel de Barros).
Em tempos de fascismo e antidemocracia neste desgoverno que assola e mata cruelmente as camadas mais pobres e negras precisamos aplaudir de pé o sr. Emicida, ou o Leandro, como a mãe dele o chama. Com sua arte, respeito à camada que move este País, ele resgata a dignidade (A dignidade baseia-se no reconhecimento da pessoa digna de respeito.[1] É uma necessidade emocional que todos nós temos de reconhecimento público de se ter feito bem as coisas, em relação a autoridades, amigos, círculo familiar, social, entre outros. Wikipédia) de quem foi explorado e asfixiado por seres que se julgam superiores. Seres que trouxeram uma cultura transplantada, para atender aos senhores exploradores do trabalho alheio – os escravos.
Nosso respeito aos Emicidas, as Djamilas Ribeiro, aos Chicos César, aos Pretos Zezé e tantos outros nomes que estão mudando a história deste País. Enfim, podemos ter esperanças.
*Márcia de Freitas é jornalista e documentarista