Última atualização em 05/02/2023, 20h04min por A Trombeta
*Por Mônica Santos
Muito tem se falado sobre feminismo ou ser feminista. O mundo mudou e com ele a percepção sobre a mulher e o seu papel na vida. Mas junto com esta jornada percebo muita confusão e distorção sobre estes conceitos. Afinal, o que é ser feminista?
A palavra feminista, por exemplo, para algumas pessoas, é traduzida pela imagem de uma mulher mal amada, revoltada e guerrilheira que luta pelos seus direitos de forma inflamada, que levanta uma bandeira contra os homens e o excluem de seus movimentos. Ou seja, julga e separa o bem do mal e foca apenas na irmandade feminina de mãos dadas onde ninguém larga a mão da outra numa marcha contra uma barricada masculina.
No perfil do estereótipo feminista imagina-se uma mulher que usa e abusa de características masculinas, como a agressividade e a competição (com os homens, claro!) e, adora mostrar sua força através de poses masculinas e ar de superioridade.
Com base no princípio de que todo extremo é perigoso e de que todo excesso é veneno, seria natural pensar que se o machismo não é algo bom, logo, o feminismo também não é. Acontece que o contrário de machismo não é feminismo, mas femismo. Seu oposto extremo e antagônico.
Feminismo não é ser contra os homens, mas a favor das mulheres. Simples assim, o complica e distorce é a mente com toda a sua subjetividade que dá significados as palavras. Particularmente não gosto da palavra feminismo, justamente porque abre muitas destas portas mentais equivocadas de sua verdadeira essência. Prefiro o termo humanista para evitar distorções conceituais, mas feminismo é diferente e precisamos entender o que é.
O que é feminismo?
Feminismo no dicionário é uma doutrina que preconiza o aprimoramento e a ampliação do papel e dos direitos das mulheres na sociedade. O Wikipédia define o feminismo como um conjunto de movimentos políticos, sociais, ideologias e filosofias que têm como objetivo comum: direitos equânimes e uma vivência humana por meio do empoderamento feminino e da libertação de padrões patriarcais, baseados em normas de gênero.
Outro conceito de feminismo é o movimento social que luta contra a violência de gênero e pela igualdade de direito e de condições das mulheres.
É isso! Ser feminista é apoiar estes movimentos que são a favor das mulheres e que não tem nada contra os homens, mas sim contra uma cultura machista que as desvalorizam e as prejudicam.
Dados de realidade
Infelizmente milhares de mulheres ainda sofrem nas mãos de homens que perpetuam um padrão de desrespeito, violência e ignorância proveniente do machismo. Este padrão é sistêmico, ou seja, proveniente dos seus sistemas coletivos, familiares e sociais.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, o Brasil encontra-se em quinto lugar na posição de homicídios a mulheres, com 4,8 homicídios por 100 mil mulheres, estando abaixo apenas de El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia. O jornal Estadão publicou os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública que revelam que o Brasil registrou 1 estupro a cada 11 minutos em 2015, calculando a medieval taxa de quase meio milhão de estupros a cada ano.
Na Fonte: Relógios da Violência, do Instituto Maria da Penha), a cada 7.2 segundos uma mulher é vítima DE VIOLÊNCIA FÍSICA.
Indicadores revelam que as mortes de mulheres negras estão aumentando em 54% enquanto o de brancas diminuiu (9,8%). (Fonte: Mapa da Violência 2015)
Somente em 2015, a Central de Atendimento realizou 1 atendimento a cada 42 segundos, somando quase 5 milhões de atendimentos desde 2005. (Dados divulgados pelo Ligue 180).
2 em cada 3 universitárias brasileiras disseram já ter sofrido algum tipo de violência (sexual, psicológica, moral ou física) no ambiente universitário. (Fonte: Pesquisa “Violência contra a mulher no ambiente universitário“, do Instituto Avon, de 2015). Os dados são muitos, mudam muito e estão todos disponíveis na internet.
Será que esta realidade já é um bom motivo para continuar e aumentar o movimento feminista, ou seja, a favor das mulheres? Alguns homens já se intitulam feministas atuando a favor de suas causas, mas muitos ainda não sabem o que é e nem como surgiu.
O surgimento do movimento feminista
O feminismo surgiu como um movimento contrário à violência e a desigualdade das mulheres. A primeira onda de feminismo surgiu no final do século 19 e início do século 20 nos Estados Unidos e, na Europa, a partir do contexto de “sociedade industrial e política liberal”.
A preocupação com a igualdade de acesso e oportunidades para as mulheres desencadearam os “grupos feministas” marcando um período de “sufrágio, independência, direitos à nacionalidade, trabalho e igualdade de remuneração” para as mulheres.
A segunda onda de movimentos feministas foi no final do pós-guerra, dos anos 60 até o início dos anos 70 sendo caracterizada como um período de libertação das mulheres e o surgimento de um ramo do feminismo conhecido como “feminismo radical”, caracterizado por movimentos pró direitos civis e igualdade que condenava o “capitalismo”, o “imperialismo” e a “opressão” das pessoas com base na noção de raça, etnia, identidade de gênero e orientação sexual.
A terceira onda de feminismo é a do contexto atual liderada por jovens feministas que fazem parte de uma ordem mundial globalizada com o advento de novas tecnologias e com o foco em questões mais complexas como violência e políticas de identidade, gênero, raça, classe e idade”
Lutas e conquistas
Muitos movimentos e grupos feministas, tanto a nível nacional como internacional conseguiram uma melhoria das condições das mulheres através do lobby de autoridades estatais e representantes eleitos, exigindo conferências sobre “questões de gênero”, assim como a criação de “santuários, abrigos” e uma prestação de serviços que ajudem a proteger mulheres vitimizadas de atos de violência.
De acordo com estudos do senado federal, nos anos 2000, é possível apontar uma evolução tanto na legislação quanto no desenvolvimento das políticas públicas relativas ao enfrentamento à violência contra as mulheres.
Mesmo assim, o feminismo incomoda e ameaça muitos, assim como o machismo. A grande diferença é que o machismo mata e o feminismo procura impedir mais mortes.
Como seria o mundo sem as feministas e os seus movimentos?
Enquanto a humanidade não amplia a sua consciência coletiva para o equilíbrio e integração das energias feministas e masculinas para uma nova onda humanista, ainda precisaremos de feministas.
Seria um sonho realizado não termos mais feministas, porque seria o mesmo de não termos mais machistas. Da mesma forma que temos homenagem ao dia da mulher, ao dia internacional da mulher entre outras. Por que só existe o dia da mulher e não existe do dia do homem? As homenagens são formas de honrar sofrimentos do passado, impedir o seu esquecimento e sua a repetição.
O pesadelo, por outro lado, é a sua inversão, ou seja, a repetição inversa do machismo, ou seja, o aumento do femismo, ou a sua inflamação radical pela indignação e raiva do passado e, ainda, do presente.
Esta distorção do feminismo é que confunde e prejudica todos. O movimento “radical feminista” tem a mesma narrativa de exclusão e agressividade do machismo. Triste realidade que reflete apenas uma ferida não curada e uma necessidade de ferir para compensar, sem perceber a repetição inconscientemente do mesmo processo doentio. (Agora, quem está agredindo, desvalorizando e excluindo quem?)
A esperança é que este movimento de mulheres revoltadas e radicais também evolua e que elas percebam que o caminho é pela força do feminino e não pelo poder do masculino.
A força do feminino, por sua vez, tem a ver com gerir, cuidar da vida, acolher, tem a ver com o afeto, a intuição, o diálogo, a colaboração e a integração. Somente com a evolução através desta integração é que um dia as mulheres feministas poderão andar de mãos dadas uma com as outras e com os homens feministas também, num só movimento com o mesmo propósito: vivermos em paz com nossas diferenças.
E aí? O que você acha de ser feminista? Por acaso você conhece um grupo chamado Mulheres do Brasil? Venha conhecer aqui neste link. Vamos ajudar o Brasil a partir da força do feminino!
Mônica Santos é Consultoria Sistêmica, especializada no desenvolvimento pessoal e na evolução empresarial de organizações conscientes que querem fazer a diferença neste mundo cada vez mais complexo, dinâmico e veloz.